Não existem sábios de revistas em quadrinhos, sábios escravos do próprio ego, não existem sábios sem base ou caminhada.
Existe sabedoria nas plantas, nas nuvens, na terra fértil molhada pela chuva e basta um tempo de contemplação, para se desligar da racionalidade, da lógica e materialidade.
Muitos esperam encontrar sabedoria nos títulos dos outros, nos livros renomados ou não, no externo fútil de uma caminhada sem sentido, enquanto as placas deste caminho apontam para os caminhos da alma, para os portais da auto revelação, muitos fogem deste ensinamento, pois encarar o caminho dos outros é muito mais fácil que encarar o seu próprio caminho, uma peregrinação pela qual enfrentará o maior de seus inimigos, ou seja, a si mesmo. Com todas as suas espertezas, alguém que sabe como ninguém as suas fraquezas e usará de todos os recursos para fazer o peregrino abandonar o seu objetivo.
Muitos chamam este destino de iluminação, outros citam que é como encontrar a sua forma plena espiritual, outros o dom de ser senhor de si mesmo, de qualquer maneira ou perspectiva o fato é que muitas barreiras existirão e só os persistentes e mais devotos conseguirão chegar ao objetivo e assim ganhar os seus louros de direito.
Ha muito tempo perguntei a um dos meus mestres o que era necessário para ser um, ele me disse apenas "- Que nada era preciso", (fiquei calado e introspectivo) e essa resposta abriu como um leque de outras centenas de perguntas, ele me olhou e colocou a mão sobre o meu ombro, vendo minha confusão interior e disse:
- Para se ter um título basta dizer aos outros, para ser um medíocre mestre só é necessário ensinar mesmo que os alunos aprendam mais com os seus erros, de qualquer forma um mestre é aquele que ensina, do mesmo jeito que você ou qualquer outra pessoa aprendeu a discernir em tempos de colégio um bom professor do mal.
Neste momento separei o ofício de professorar com a sabedoria e resumi que todo sábio pode ser um mestre, mas nem todo mestre é um sábio.
Caminhando em meus pensamentos e por muitos e muitos anos como aprendiz, entendi que ser um mestre é em primeiro caso ser um trabalhador incansável, alguém que abdica de seu tempo em prol de algo maior, alguém que realmente se doa, sem este foco, esta vontade, este sentimento liberto de interesses não há como nem começar a trilhar.
Um segundo passo (acredito eu) é ser amigo, é romper com sentimentos mesquinhos e materialistas, é pensar sempre na coletividade, é ser tolerante, apaziguador, presente, entre outros atos honrados, por vezes o poder e o dinheiro tendem a peneirar, onde a porta é sempre mais larga, onde existem facilidades escusas.
Dentro das antigas crenças descobri que o caminho que se deve seguir, ou seja, o caminho sábio sempre estará num corredor de muitas possibilidades, mas sempre será a porta mais estreita e pequena, pela qual temos que nos ajoelhar para entrar, com ensinamentos de humildade, abaixando a cabeça e sendo um observador que encontraremos a melhor compreensão.
Para um terceiro passo, entendi que era necessário ter responsabilidade, saber distinguir um bom caminho de uma armadilha, de ter a facilidade de ler as placas que a espiritualidade nos passa. Aprendi que nunca deixamos de sermos aprendizes, porque é necessário sempre aprender e que podemos aprender até com quem ensinamos, na verdade o fato de ser um mestre não implica que somos melhores que alguém, mas somente que passamos por momentos que nos deram a vivência para auxiliar àqueles que irão passar pelas mesmas provas espirituais e filosóficas.
O quarto passo é um dos atos mais difíceis onde pactos encontram o seu poder espiritual, onde se é testado por todas as energias, mestres espirituais, discípulos, e todas as forças o pressionam, neste momento é testado à fé, a tolerância, a falta dos bens materiais, se é dado à forja, onde o professor morre e renasce como mestre revelado.
Este é o estágio que a maioria dos que ensinam ficam mais tempo, diante das aprovações serem muito críticas e não havendo um espírito forte, muitos largam seus trabalhos, suas crenças, mudam de religião e tratam logo de esquecer do ofício. E assim vocês verão muitos.
O quinto passo, o mestre já é um atravessador de mundos, ele se transmutou, um ser muito mais espiritual e mágico do que carnal, nesta fase ele acessa a grande rede da vida, sua consciência esta em todos os lugares, seus pensamentos repousam em plenitude, esta ao lado dos deuses, é educado pelo espírito.
O sexto e os demais passos nessa caminhada poderíamos imaginar ser cair no mais profundo saber e êxtase e que esta muito além da nossa consciência, é um poder tão mágico que é muito fácil se emocionar com tanta beleza, com tanta clareza, e a vida transmuta em algo muito maior.
Com esse texto não desejo que o leitor entenda-o como um manual passo a passo, pois cada um de nós tem um sentido diferente de ver a vida, aprovações e aprendizados diferentes, mas em qualquer caminho que se siga na magia do entendimento tem de estar junto ao peito, um coração puro e uma mente consciente e este conjunto fazem o espírito fluir mais forte e belo pelas florestas do outro mundo.
FONTE: Ricardo DRaco
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